Fotos: Reprodução Jovem Pan
E
m entrevista concedida nesta terça-feira (29) ao programa Debate na Pan, da Jovem Pan Florianópolis, o ex-CEO do Figueirense, Enrico Ambrogini, falou pela primeira vez após sua demissão, revelando bastidores turbulentos da gestão da SAF e críticas contundentes à condução política do clube. Ambrogini, que estava no cargo desde 2023, afirmou que sua saída, anunciada nesta segunda-feira (28) foi resultado de conflitos de princípios com a direção e desavenças entre os grupos que comandam o clube.
Logo na abertura da entrevista, Ambrogini pediu desculpas à torcida alvinegra pela frustração com os resultados esportivos. “Queria fazer só um pedido público aqui de desculpas pra torcida do Figueirense, porque eu não entreguei a parte desportiva. Talvez não fosse 100% da minha responsabilidade, mas eu como CEO sim tenho que chamar essa responsabilidade para mim”, declarou.
Conflitos internos e crítica à governança da SAF
O ex-CEO relatou a dificuldade de lidar com duas frentes de comando no clube: a Clave Capital, parceira investidora, e o Conselho da SAF, liderado por Paulo Prisco Paraíso. “É difícil responder a duas pessoas, sendo que essas pessoas também parecem não conversar entre si. E ontem foi a gota d’água”, disse Ambrogini, referindo-se ao episódio que culminou em sua demissão. Segundo ele, havia um combinado com o técnico Thiago Carvalho e que fora desfeito sem seu consentimento.
Segundo ele, “ninguém julgou o meu trabalho. Simplesmente estão julgando parte política. Aí é onde eu não faço parte. Eu não vou mudar meus valores, não vou mudar os meus princípios”. Ambrogini afirmou que não houve sequer uma comunicação formal clara sobre os motivos da sua saída. “Foi uma mensagem do secretário do conselho da SAF falando que eu estava destituído do cargo de CEO. Então não houve nenhuma resposta ao porquê, o que que eu fiz, o que que eu não fiz”.
Defesa de princípios e caso Thiago Carvalho
O ex-dirigente apontou como um dos estopins de sua demissão o impasse envolvendo a permanência do técnico Thiago Carvalho, demitido também nesta segunda-feira(28). Ambrogini revelou que, por princípio, era contrário a trocas constantes no comando técnico: “Eu sou absolutamente contrário a mandar o treinador embora, qualquer que seja o treinador. Porque a culpa é de quem trouxe, não é culpa do treinador”.
Mesmo após um acordo interno sobre metas mínimas para a permanência do técnico, Ambrogini contou que foi pressionado a mudar de posição: “Chegou no fim do dia e falaram: ‘Eenrico, você tem que mudar a decisão porque a gente não quer mais o treinador’. Eu não farei isso. Não mentirei, não vou por cima dos meus princípios, não vou fazer nada”.
Acusações de interferência e “boicotes” internos
Ambrogini revelou episódios que indicam resistência interna ao seu trabalho, incluindo a recusa a um patrocínio master de valor elevado. “Vocês sabiam que eu trouxe um patrocinador master pro Figueirense? Ele foi negado pelo conselho da SAF. Foi negado por risco à imagem”. O patrocinador em questão é a Fatal Model, site de acompanhantes que patrocina clube e campeonatos por todo o país.
Outra revelação diz respeito à agência de viagens usada pelo clube. Segundo o ex-CEO, ele foi obrigado a fazer o pagamento à fornecedora, mesmo em um momento de dificuldade de caixa, sob ameaça de ser demitido caso não o fizesse. “A agência de viagem eu fui obrigado a pagar. Obrigado. ‘Paga ou você tá fora’. O executivo contou que o clube passava por problemas de caixa e foi acordado com fornecedores do clube um plano para pagamento. Exceto para a agência, a qual ele alega ter sido obrigado a realizar o pagamento na íntegra sem esperas. “Vocês sabem quem é a dona da agência de viagens?”, indagou Enrico, sem citar nomes, mas dando a entender que seria alguém com relações com o clube.
1000% Lages e Legado
Apesar da frustração com a forma como deixou o clube, Ambrogini destacou melhorias estruturais e financeiras como seu legado. “O meu legado é estrutural, meu legado é administrativo e financeiro. […] A próxima pessoa que chegar, não precisa pagar os 4 milhões que eu paguei de dívida”. Ele também relatou investimentos no CT do clube, como irrigação automática e melhorias no vestiário da base, que antes contava com apenas um chuveiro para 35 atletas. “Quem me critica por ter investido nisso, é porque não vai ao CT”.
Entre as frustrações, citou o nome de José Carlos Lages, que, segundo ele, foi um avalizador de sua contratação, inclusive tendo tentado trazê-lo em anos anteriores, quando Ambrogini estava ainda na Inter de Limeira, clube do interior paulista. Ainda sobre Lages, o executivo foi perguntado sobre a influência dele (Lages) no futebol do Figueirense. A resposta surpreendeu os torcedores: “1000%. Ponto. Essa é minha resposta”.
Recuperação judicial e entraves jurídicos
Ambrogini também lamentou os atrasos e os conflitos em torno da recuperação judicial do clube. “1000%. [Atrapalha] 1000. Porque como é que você vem trabalhar aqui todo dia pensando se amanhã você vai ter condição ou não vai ter?”. Segundo ele, foi retirado do acompanhamento do processo ainda no início. “Eu fui deixado de lado lá logo no começo, quando falei que identifiquei que os assessores não eram o que a gente esperava”.
Sentimento e relação com a torcida
Mesmo demitido, Enrico prometeu continuar apoiando o clube das arquibancadas. “Já aproveitando, segunda-feira eu tô lá, vou na arquibancada, vou assistir o jogo, porque eu acredito pra caramba. Sou sócio torcedor, então ninguém vai conseguir me barrar, eu entro”.
Em tom emocionado, reforçou sua identificação com o clube e a cidade. “Sou figueirense. […] Pretendo seguir porque gostei muito. A torcida não tem nenhuma culpa. […] Só tenho coisa positiva a falar”.
Futuro e críticas à cultura de gestão
Enrico Ambrogini encerrou a entrevista reiterando que seu afastamento se deu porque não cedeu a pressões. “É muito mais fácil para mim jogar quem eu precisar jogar na frente do trem e seguir minha vida. Só que não é o que eu acredito”.
Veja o programa na íntegra:
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