Por Eduardo Aquino Hubler, professor universitário e torcedor do Avaí Futebol Clube
O
futebol profissional brasileiro passa por uma grande mudança estrutural que exige repensar o modelo de gestão atual, baseado nas associações esportivas. O modelo predominante, de natureza associativista, marcou o futebol brasileiro por décadas, contudo, o momento presente exige uma nova abordagem, onde a profissionalização da gestão, com a devida capacidade técnica para viabilizar a equalização dos passivos trabalhistas, fiscais e previdenciários da entidade, para aportar investimentos e desenvolver alternativas de financiamento econômico-financeiro para a operação, agregando, ainda, valor aos ativos tangíveis e intangíveis do empreendimento esportivo são fatores determinantes para garantir a perpetuação dos nossos “clubes”, no longo prazo.
Alguns dirão que não, que “futebol é paixão!”, que “a nossa história não pode ser manchada”, mas os exemplos ensinam que essa paixão precisa ser traduzida em ações executivas focadas em eficiência, eficácia e efetividade que mantenham essa chama acesa e que garantam a sua continuidade. Botafogo, Cruzeiro, Fortaleza, entre outros, que o digam! De fato, o modelo associativista que caracteriza o futebol brasileiro há décadas carrega na sua essência dois aspectos que não tem mais espaço em um contexto tão dinâmico quanto o do futebol profissional, a saber: (a) a gestão de seus ativos econômico-financeiros, que exige profissionalização e uma abordagem gerencial e transparente e; (b) a tomada de decisão, que não pode mais ser eminentemente política e, via de regra, baseada em interesses de grupos específicos em detrimento da entidade.
Dito isso, o modelo baseado na Sociedade Anônima do Futebol, a SAF, aparece como uma alternativa viável, sustentável e coerente com a nova realidade do futebol profissional, e que já vem sendo adotado com êxito no mundo todo, com diversos empreendimentos futebolísticos passando a experimentar uma mudança substancial no seu modelo de gestão e, sobretudo, na sua cultura organizacional.
As SAFs proporcionam a segurança jurídica e transparência necessárias para que investidores e demais interessados, inclusive nós torcedores, invistam no futebol tendo a perspectiva do devido retorno dos investimentos realizados, enquanto a entidade tem acesso a recursos que viabilizam seus objetivos esportivos e, sobretudo, a sua sobrevivência no longo prazo.
Botafogo, Cruzeiro, Vasco da Gama, Bahia e mais de 100 sociedades anônimas no Brasil demonstram que é fundamental romper com o modelo associativista que marca o nosso futebol, aceitando que não há mais espaço para experiências populistas e eleitoreiras que durante anos comprometeram o patrimônio de suas entidades, gerando passivos trabalhistas, fiscais e previdenciários impagáveis, de forma totalmente irresponsável.
Em verdade, os clubes que optaram pelo sistema profissional da SAF em seus departamentos de futebol já começam a se distanciar de seus rivais, assumindo papel de vanguarda nessa nova realidade do futebol profissional brasileiro. Para aqueles que não se adaptarem, assim com ocorreu em Portugal, Itália, Alemanha, Espanha e França, se configura o mesmo destino daqueles clubes que optaram por manter o modelo de gestão associativista, comprovadamente ineficiente e anacrônico.
No Brasil, as entidades que saíram na frente já capitalizam os benefícios de aderir ao modelo SAF. Na Série A, já são 7 SAFs, todas elas com capacidade de investimento e gestão profissional que fez com que as entidades esportivas, outrora em situação de dificuldade, estejam agora, já nos primeiros anos, tomando o rumo da sustentabilidade econômico-financeira e, o que é melhor, com excelentes resultados esportivos conquistados, para satisfação de suas imensas torcidas. Algumas regiões e estados, como o Nordeste e São Paulo, prontamente aderiram ao modelo da SAF que, em menos de 3 anos, colocou suas equipes em posição de destaque no futebol brasileiro.
Em outros estados, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul, ainda se observa resistência ao novo modelo, com base em narrativas e retóricas desvinculadas de dados e evidências consistentes, que tem o poder deletério de relegar seus clubes a situações de insolvência e dilapidação patrimonial. Mas, seguramente, os responsáveis por manter tal inércia e conformismo irão utilizar de todo tipo de subterfúgio para se eximir do fracasso que a resistência à mudança irá, inexoravelmente, incorrer.
Sobretudo, é fundamental que os torcedores questionem os discursos populistas e contrários à profissionalização do futebol profissional, exigindo clareza sobre o modelo de gestão que seus opositores pretendem adotar: como irão gerenciar e agregar valor aos ativos, tangíveis e intangíveis, da entidade? Qual a forma de financiamento econômico-financeiro da operação, além das tradicionais antecipações de receita de TV? Como pretendem equalizar o imensos passivos trabalhista, fiscal e previdenciário do clube sem incorrer em danos ao patrimônio? Quais serão os critérios e condições para a formação de elencos?
São perguntas complexas, que só aqueles que estão preparados e capacitados para assumir tal desafio são capazes de responder. Por isso torcedor não se engane com os discursos populistas, surrados e superados, daqueles que ainda defendem um modelo de associação esportiva, notadamente ineficaz, sob a alegação de que “o clube é nosso” sem apresentar ao menos uma única proposta concreta e viável para garantir a sustentabilidade do negócio futebol e o sucesso desportivo da entidade. Investir no futebol profissional exige segurança e transparência, não discursos vazios.
De promessas e engodos, estamos cansados.
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